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Crítica - Dança dos Vagalumes (Maikon Nery, 2025) | Arte e fabulação: caminhos para futuros outros

Mostra Competitiva Curtas | 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro



Maikon Nery trabalha imaginação e memória como aliadas políticas para um futuro iluminado


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Dança dos Vagalumes (Maikon Nery, 2025) compõe o segundo dia da Mostra Competitiva Nacional. O curta-metragem é sobre Joana (Amanda Abranches), uma professora que retorna ao assentamento do MST, onde cresceu. Numa espécie de “o bom filho à casa retorna”, ela ensina Artes para crianças, como num gesto de estimular a imaginação para proporcionar visões alternativas à sua realidade. 


O filme opera por intermédio de recursos poéticos visuais para delinear uma estética política ancorada no realismo do Movimento Sem Terra — mais especificamente do assentamento Eli Vive, no Paraná. Isso é expresso em momentos pontuais pela montagem ao incluir pequenos trechos de arquivos do assentamento. Embora abra espaços para momentos de fabulação, o que verdadeiramente ilumina o filme são as passagens de Joana ainda criança, cuja aspecto visual dos grãos na fotografia emulam esse passado marcado pela escuridão e pela violência, mas também de muito acesso à natureza, ao verde que banhado pela luz do sol remete a um sonho, um portal feito de realidade que abre uma fenda para permitir imaginar. E o sonhar é antídoto para a realidade, é o espaço de fabulação de possibilidades. 


Na alternância entre passado e presente, a dança de vagalumes a que Maikon Nery se refere não está somente presente no grupo de crianças que, usando a lanterna do celular em mãos, brincam com a luz no escuro do local, mas também nesse jogo das lembranças de Joana adulta sobre sua infância concentrada no pai e na violência que o levou — essa figura espectral que habita suas memórias. Porque é exatamente nesses momentos sombrios que sua imaginação é convocada para iluminar outros caminhos. Numa das falas do pai, ele passa para ela o ensinamento de que é no escuro que a luz brilha mais forte. Os diálogos — tanto no passado retratado quanto no presente — soam mecanizados, por vezes forçados. Nisso, o filme perde um pouco do que havia sustentado nos primeiros minutos. 


É interessante e curioso como a narração pela voz de Joana ainda criança possui esclarecimento tão nítido e sobretudo poético de sua realidade. E embora isso seja admirável, em especial pela liberdade de apresentar essa visão sobre uma perspectiva delicada mas não ingênua, talvez a maior força do filme esteja na retratação da violência sofrida pelos moradores do MST e não cometida por eles. O cineasta ajuda a trazer senso e verdade para a realidade dos residentes do assentamento. E as crianças são, por mais clichê que isso seja, imageticamente representadas no discurso fílmico como detentoras de uma luz-antídoto que ilumina em meio à escuridão.



Essa crítica faz parte da cobertura do 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro




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