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"Swing Girls" é sobre se apaixonar pela jornada

Em um manifesto do poder do entusiasmo, cada nota musical reflete um pouco da natureza humana de perseguir aquilo que se ama


Crítica Swing Girls

Há algo no cinema de narrativas singelas que ressoa de uma forma muito mais retumbante do que as grandes tramas de salvar o mundo, a realidade, o universo e tudo mais. Elevar a importância máxima algo que é pequeno faz parte daquilo que torna o cinema algo tão empático na projeção de outras realidades. Isso sem falar nos paralelos surpreendentes que se formam no simples trato das emoções e desejos humanos mais simples. Nisso, é possível se construir uma obra que seja tanto rica em seus regionalismos e personalidade quanto universal e com uma narrativa fácil de se conectar e estabelecer pontes.


Swing Girls, de Shinobu Yaguchi, é um exemplo de como essa simplicidade consegue alcançar grandes amplitudes. No filme, conhecemos um grupo de meninas que acabam caindo de paraquedas na banda de metais do colégio depois que todos os seus membros se intoxicam com uma comida estragada. Ao perceberem que a única possibilidade de cumprirem o dever de tocar no jogo do time de baseball seria substituindo o estilo clássico por jazz, elas se apaixonam pelo gênero. Num golpe de azar, a banda se recupera a tempo, mas elas são deixadas com uma paixão pulsante pela música e decidem fazer algo a respeito.


Crítica Swing Girls

Essa vontade de realizar algo fazendo aquilo que se ama e de embarcar numa jornada em busca de materializar esse sentimento em uma manifestação artística, me permite construir uma ponte absurda desse filme com Magic Mike XXL. De fato, parece meio assustador relacionar garotas adolescentes tocando jazz com strippers sarados em uma roadtrip, mas talvez faça algum sentido. Em ambos temos os desacreditados que descobrem ou redescobrem o quanto gostam de uma determinada atividade entrando de cabeça no processo de ou se tornar melhor ou reafirmar sua habilidade. Não por dinheiro ou prestígio, muito menos para provar algo para alguém que não eles mesmos, mas pelo simples motivo de amarem demais aquilo para deixar essa vontade passar.


Nisso, até mesmo os coadjuvantes que os ajudam nessa busca têm papéis semelhantes. Em Magic Mike, Nancy Dawson (Andie MacDowell) empresta o carro para ajudar eles a chegarem na competição por sentir neles a juventude e liberdade que desperdiçou quando jovem. Em Swing Girls, o professor de matemática (Naoto Takenaka) ensina a banda por pura resposta ao entusiasmo delas e o seu próprio com a música. No caso dele é ainda mais enervante, pois mesmo sem saber tocar (uma verdadeira negação), ele consegue ensinar o mais importante: a paixão pela arte e a empolgação em fazer música.


São dois filmes tão honestos ao lidar com a necessidade dessa jornada que todo o restante parece só um acessório. Mesmo um deles trazendo um pouco da ideia de sonho americano, com tanquinhos bronzeados e a opulência da Flórida, e o outro indo direto no agito da pacatez rural japonesa com a atitude punk e rebelde de um grupo adolescente, essa perseguição os aproxima em uma vontade humana arrebatadora: ser feliz ao se dar a possibilidade de tentar.


Crítica Swing Girls

Todavia, o filme de Yaguchi vai além. Por mais que na maioria de sua rodagem ele tenha uma linguagem simples, esse minimalismo preciso parece entender como abraçar o protagonismo coletivo. Ainda assim, momentos como a perseguição do javali pendem  mais para o humor do que as piadas bestas do restante do filme. A câmera simula um “bullet time” se movimentando enquanto os atores permanecem estáticos, uma câmera lenta tão obviamente não lenta e só encenada que não tem como não se maravilhar com a criatividade dessa solução.


No fim, uma grande apresentação converge todos os pequenos acontecimentos do filme: desde o ratinho no trompete até os ex-namorados tentando reconquistar suas amadas e o professor re-assumindo com orgulho seu posto de maestro. Com algumas falas pingadas, o destaque vai todo para as meninas fazendo aquilo que elas passam o filme todo ensaiando. A banda é apresentada de uma forma gloriosa, com os instrumentos brilhando enquanto elas não só tocam a música como se deleitam com ela.


Crítica Swing Girls

Aqui cabe fazer uma segunda comparação, mas dessa vez nada positiva. Em F1, Joseph Kosinski entrega um épico no universo das corridas. Sem entrar em meandros da qualidade do filme, ele tenta maravilhar o espectador a todo instante com suas manobras ousadas e ultrapassagens mirabolantes filmadas com câmeras IMAX montadas nos carros reais utilizados na produção. É um espetáculo técnico que visa a empolgação máxima até o último segundo. Entretanto, ao chegar à sua apoteose, o momento de triunfo do protagonista passa frustrantemente rápido. O personagem de Brad Pitt celebra um pouco, mas logo sai de cena, dando início a uma nova cena em que ele busca outra categoria automobilística para se aventurar. Aí sim, depois de um novo mini arco, o filme acaba.


Como o exemplo acima expõe, essa é uma tendência de alguns filmes recentes: tentar emocionar através de um epílogo solto que não se relaciona em nada com a narrativa que constrói. Felizmente, esse não é o caso de Yaguchi. Ele leva suas personagens para onde elas querem estar e não existe motivo para estender sua existência para além das glórias dessa exibição. Os aplausos chegam juntos de um plano fechado em cada um dos adolescentes responsáveis por não desistir dessa empreitada musical e um quadro congelado encerra essa obra-prima.


Swing Girls é tão apoteótico quanto é adolescente. Um filme empolgante e universal ainda que reafirme sua existência nipônica com orgulho e naturalidade. Translúcido e opaco, ele te faz olhar para suas próprias paixões e inspira persegui-las com afinco enquanto ainda é um filme admirável por todas as suas escolhas de encenação precisas e despretensiosas.



Nota da crítica:


Crítica Swing Girls


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