Com formato episódico e capítulos que funcionam por si só, The Mandalorian expande Star Wars ao mesmo tempo que reafirma os conceitos da saga.
Chega a ser recorrente a utilização da máxima ‘‘isso não é Star Wars!’’ para desqualificar os produtos mais divisivos ou polêmicos do universo concebido pelo primeiro Guerra nas Estrelas, de 1977. O argumento é utilizado por fãs dos mais variados tipos, projetando seus próprios fetiches e preferências na expectativa de obras que possuem o dever de expandir a história e avançar seus temas.
A verdade é que já não é tão simples definir uma franquia que atravessou tantas fases, seja nos longas que compõem a saga de 9 filmes ou nos produtos paralelos que preenchem o universo expandido. Em meio a um cenário de cansaço da franquia, com trilogias mal planejadas e narrativas replicadas, o trunfo de Jon Favreau, criador de The Mandalorian, é aliar temas e referências já vistas anteriormente em Star Wars com uma mitologia fresca e personagens renovados, com o objetivo de alcançar uma identidade que, de alguma forma, faça parte do universo de uma maneira orgânica para os fãs.
A oposição entre o prático e terreno versus a intuição e a mística, personificados na relação entre Mando e o bebê Yoda, não é exatamente novidade - na verdade, é o tema central do universo criado por George Lucas -, assim como o drama familiar e as referências ao cinema de samurai e aos faroestes europeus, que também estão presentes em The Mandalorian.
A graça está justamente em acompanhar essas batidas em um seriado que não tem medo de mergulhar em uma mitologia nova, a mandaloriana, que serve como um respiro aos jedis já tão utilizados, assim como em personagens que existem e funcionam por si só, sem a necessidade de recorrer a conexões com rostos e sobrenomes já conhecidos como forma de validação.
O caráter episódico e solto dos capítulos, com histórias fechadas e um ponto de partida específico para a aventura da semana, dá mais força ao seriado na medida em que permite o criador a explorar gêneros, situações e ecossistemas diferentes. O time de diretores, que conta com os destaques de Peyton Reed, Rick Famuyiwa e Robert Rodriguez, possui a liberdade de conferir diferentes estilos e assinaturas durante as temporadas, sem a necessidade de uma amarração mais burocrática entre os episódicos - ainda que exista, sim, um fio condutor. O conceito ‘monster of the week’ abre as possibilidades de The Mandalorian e explora com criatividade seu universo.
Aliás, se a fraqueza de The Mandalorian está em uma certa repetição na estrutura dos episódios, que confere um certo caráter limitador ao seriado, o fan service chega para injetar ânimo e energia para a experiência, sem atropelar o desenvolvimento dos personagens ou o universo específico da série. A cena final da última temporada, entre Mando e o bebê Yoda, é o maior exemplo. Em um equilíbrio entre a renovação, a familiaridade e a nostalgia, a série de Jon Favreau se aproxima do que os entusiastas entendem como Star Wars.
Nota do crítico:
As duas temporadas de The Mandalorian estão disponíveis no Disney+.
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