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Foto do escritorPedro Porto

O Castelo no Céu (1986)

Considerado o mestre da animação japonesa, Hayao Miyazaki constrói um universo onde a modernidade e o legado do passado habitam o mesmo espaço



Hayao Miyazaki é um cineasta que vende ideias utópicas como visões possíveis, que nascem na imaginação, mas viram magia através de recursos animados. Ele não esconde de ninguém, nem das crianças (que adoram primeiras impressões), que o centro de seu terceiro filme (e primeiro pelo Studio Ghibli) é um castelo localizado no céu, e logo fica evidente que sua descoberta geográfica impõe necessidades de pertences específicos aos interessados. O local se situa em uma ilha flutuante que expande ainda mais o contato com o verde da grama e o azul do céu (que ele capta com a mesma imensidão e vastidão com a qual captaria o mar) que já fazem parte do pacote de atrações de um filme do diretor.


O reino de Laputa, nome que vem de uma família que atravessa o tempo com noções de realeza, reúne justamente o simples lado a lado com tudo que é engenhoso (robôs-jardineiros, um homem ambicioso e uma trupe de militares caricaturados) e a busca por esse lugar fruto de tanta cobiça vem acompanhada da posse de um amuleto que ativa poderes e feitiços, por boa parte do tempo, misteriosos. A preservação do ambiente, no entanto, implica em um potencial grande de destruir a natureza circundante. A inovação tecnológica surge em uma relação de simbiose com o entendimento do ciclo biológico de cada ser, de cada elemento do planeta.



Somos acompanhados nessa verdadeira viagem pela natureza por um menino (Pazu) e uma menina (Sheeta), ambos órfãos, muito decididos do que querem, além de um grupo de piratas resmungões e divertidos, pedindo passagem, e sendo muito bem-vindos. A princípio, tudo leva a crer que eles serão os verdadeiros vilões do filme, mas são apenas saqueadores carismáticos e até simpáticos, quando quem se relaciona com eles rompe a barreira da desconfiança. No comando da equipe, está a mãe de rapazes já adultos, que vivem à espera de que ela tome alguma decisão por eles. Ainda assim, não há muita instrução. O objetivo deles dentro do que a história propõe é bem simples: ir onde tem ouro, e é aí que o caminho deles cruza com o de nossos protagonistas.


Eu adoro particularmente os momentos da carreira de Miyazaki em que ele se utiliza de um cenário muito influenciado pela estética steampunk, em que os elementos narrativos, e os meios de locomoção das personagens têm como base referências antigas, e o recorte, justamente por isso, é retrofuturista, já que a embalagem de tudo é muito sofisticada. É uma modernidade mais sentida do que vista, mas com um maior desenvolvimento para a ação e grandes momentos de tensão. Em filmes posteriores, como O Serviço de Entregas da Kiki e Meu Amigo Totoro, a sensação é de que a quietude se sobrepõe à necessidade de ir de um lugar a outro. O lado bom de um caso ou do outro é que sempre dá para contemplar, em carga reduzida ou acelerada.



É até curioso que esse lado mais sensorial esteja presente no filme já que ele é essencialmente uma aventura de ficção tomada pela necessidade de exploração (do que é feito o universo retratado? quem exerce cada função específica? qual é ou quais são os objetos de interesse próprio, que levarão às respostas das questões propostas?) que culmina na possibilidade de descobertas. O filme acaba se situando na raiz da criação de seu diretor: é uma história contada de forma ágil, mas que também encanta, e não apenas situa o espectador sem muito cuidado dentro da trama.


O fascínio pelos detalhes e a complexidade da funcionalidade lógica do ambiente dividem espaço com um coração ávido por doses de adrenalina e momentos de sutileza que só uma mente sensível é capaz de proporcionar.


 

Nota do crítico:


 

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