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Foto do escritorLucas Tameirão

La Jetée (1962)

A atemporalidade ontológica (e melancólica) das memórias e das fotografias



É de uma poesia muito particular apresentar uma história de viagem no tempo por meio de fotografias. Ainda mais, como no caso de La Jetée, quando a viagem no tempo acontece por meio do sistema mnemônico.


Memória e fotografia, uma a materialização da outra; ambas, “tempo embalsamado”, inerentemente anacrônicas e, por esse motivo, instrumentos de “viagem no tempo”. A intencionalidade do registro fotográfico – capturar este elemento do Real, e não aquele, nem este outro – equivale à preferência da memória de colher apenas os fragmentos de passado de maior poder afetivo. Aliás, em busca justamente desse poder.


Além disso, vale mencionar a forma como a trama de cronologia paradoxal explora a melancolia de um romance que só existe em fotografias. No filme, o protagonista não pode escapar do seu destino trágico, porque há uma conexão causal entre a sua morte e o trauma que o fez, em primeiro lugar, um viajante no tempo em potencial. Com efeito, não pode fugir de sua realidade feita de fotografias, as quais não são nem passado, nem presente, nem futuro, mas um amálgama de todos os tempos.


Logo, o protagonista está confinado à atemporalidade ontológica de sua realidade. Por consequência, ele é incapaz de efetivamente consumar a sua paixão, porque esta só existe virtualmente, em forma de sugestão, tão fugaz quanto uma lembrança.


Tudo o que vive, um dia, morre, e morrer nada mais é do que ser ceifado pelo tempo, dos momentos aos amores. Com a fotografia, entretanto, a humanidade conseguiu dar um passo significativo em sua busca por vencer o tempo e atingir a imortalidade. Mas o que é capturado pelas fotografias, embora seja capaz de superar a morte, não pode ser plenamente acessado nem vivenciado. Nos disse André Bazin: “(…) [A] fotografia não cria, como a arte, eternidade, ela embalsama o tempo, simplesmente o subtrai à sua própria corrupção.”


Por isso, há uma tristeza nessa subtrama de amor, a mesma tristeza de se contemplar uma fotografia e deparar-se com um passado – ou, melhor, com um tempo – que não existe mais, que é fundamentalmente inalcançável. Eis a melancólica nostalgia inerente às memórias e fotografias.


Nota do crítico:


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