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Foto do escritorDavi Alencar

Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023) | A peça-chave

Mesmo com um produto final que imprime “Indiana Jones” em um filme de ação genérico, é impensável deixar a franquia descansar em paz



É engraçado se observar como os estúdios e diretores que resolvem dar sequência à franquias de sucesso enxergam os fatores que tornaram determinado universo ou jornada algo tão especial. O que torna, Star Wars, por exemplo, algo tão único e amado? Há quem diga que sabres de luz, planetas exóticos, aliens e jedis são a base que fundamenta tamanha paixão por parte do público. Todavia, os últimos filmes da saga tem todos esses elementos e ainda não tiveram uma fração do sucesso ou admiração de seus predecessores.


Por outro lado, até mesmo filmes que não tem nenhuma relação, vez ou outra, podem parecer sequências espirituais. Com esses dois extremos em jogo, Indiana Jones e a Relíquia do Destino (James Mangold, 2023) fica precisamente no meio. Enquanto sua estória, com nazistas tentando pôr as mãos em uma relíquia extremamente poderosa, é algo que se espera de um filme do arqueólogo, a qualidade e inventividade da linguagem destoa muito da impressa nos demais capítulos.



Confesso um mix de emoções conflitantes a partir dessa divisão. Por mais que uma parte de mim queira muito ver mais uma odisséia milimetricamente gravado com a câmera do Spielberg, não ser do diretor não é um aspecto que impacta na percepção da obra fora da pré-concepção rasa do que eu acho que deve ou não ser um filme de Indiana Jones. Então, há a dificuldade de não julgar o filme por não ser de Steven, mas sim por ser de James Mangold.


Dito isso, sinto que o diretor consegue seguir um caminho brando ao ponto de achatar um dos melhores personagens que o cinema já viu. Não que seja ruim, tem até alguns bons momentos contemplativos e um final lindo, mas se encaixa na categoria esquecível por sua encenação batida. Criar um filme de ação comum, mesmo com esse enredo aventuresco, e simplesmente imprimir “Indiana Jones” por cima não é o bastante para compor algo interessante. Ele não consegue transpor criatividade alguma ao longo de uma jornada que implora por isso e termina com cenas, especialmente de ação, que parecem ter vindo de algum trabalho do The Rock.


O pior é que, onde tem o melhor no seu uso da linguagem é onde tem a menor inventividade de sua narrativa. A sequência final, em que vão até a Itália para obter a segunda metade da Anticítera, por mais que tenha uma ação envolvente e um encontro bonito, faz isso através da recriação pífia do trabalho de Spielberg. Obter o local certo de exploração atrasando os nazistas, um salão com insetos saindo das paredes, pontes suspensas que derrubam vilões, encontrar a figura histórica que passa o filme todo citando e muitos mais. Ele finge ser algo novo no remix desses elementos, mas se limita a uma cópia que não consegue sequer emular o que torna os demais tão interessantes.



Por último mas não menos importante, A Relíquia do Destino é um tanto desrespeitoso com o legado do universo e de seu principal ator. Em A Caveira de Cristal, quando Mutt ensaia colocar o chapéu, Indy o arranca de suas mãos, pousando-o sobre a própria cabeça e deixando uma mensagem bem clara. Harrison Ford é Henry Jones Jr., a estrela da franquia e não um boneco. Nem é por saudosismo, mas por honrar um ator que há mais de 40 anos se entregou para o papel e o preencheu tão bem.


Agora, sob uma ótica industrial no cinema, é impensável deixar que a marca pereça e o filme não hesita em substituir Ford. Não através da personagem de Phoebe Waller-Bridge, que caminha bem sob as próprias pernas, tem um arco bem desenvolvido e encaixa bem na obra (embora sinta uma certa insistência do filme em tê-la como sucessora), mas sobre toda a “presença” do ator na sequência inicial. Excitante, o longa revela a recriação digital de Harrison Ford sem perceber que contribui um pouco para a morte do cinema como algo vivo. É um escárnio com um artista que, mesmo depois de entregar sua imagem por décadas para a Disney, fica impossibilitado de sair de cena.


Nota do crítico:


Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular. Clique na imagem abaixo para ver mais do trabalho do autor:


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