Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022)
- Lucas Tameirão
- 14 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Um filme de mistério para uma audiência contemporânea

Glass Onion não é um filme exatamente "inovador", porque não reinventa a roda no que tange às características fundamentais do filme de mistério, mas certamente o longa de Rian Johnson atualiza-o, tanto temática – a trama se passa nos dias atuais, inclusive durante a pandemia, e conta com um elenco de personalidades também muito atual (o bilionário bufão à Elon Musk de Edward Norton, etc.) –, quanto esteticamente. A meu ver, Johnson está fazendo um filme tendo em mente as peculiaridades de um público contemporâneo.
A narrativa mantém um ritmo ágil, feita para um espectador acostumado com a rapidez visual e com um fluxo de informações incessante. É curiosa, inclusive, a forma como o filme integra algumas imposições do "cinema sob demanda" à Netflix de maneiras criativas, como os excertos que lembram ao espectador de memória curta o que acabou de acontecer. Onde, numa série como Stranger Things, isso é endêmico, Glass Onion consegue propor aplicações instigantes.
Além disso, a trama, cujo elemento definidor é a farsa, está sempre se "atualizando" conforme novos elementos são introduzidos, e justamente essa renovação constante de tudo o que sabemos é o seu motor e o seu principal trunfo. Se o primeiro filme no universo de Benoit Blanc, Entre facas e segredos, de 2019, era todo orientado para desconstruir não o gênero de mistério, mas a descrença do público em relação ao gênero, este segundo, mesmo que use de estratégias similares ao antecessor para desarmar uma possível descrença ainda resistente no espectador contemporâneo, está mais à vontade para brincar com a estrutura narrativa de outras maneiras.

Ademais, é notável a forma como Glass Onion se inclina para a comédia, ainda mais até do que o primeiro filme. Daniel Craig e Rian Johnson estão cada vez mais confortáveis em assumir o gênio atrapalhado que é Benoit Blanc, acima e além do estereótipo de "detetive" sobre o qual o primeiro filme precisou se apoiar; aqui, Craig caminha graciosamente entre o Sherlock Holmes e o Pantera Cor de Rosa, e, nestes momentos, a encenação de Johnson se deixa ser conduzida pelas suas palhaçadas, para efeitos absolutamente deliciosos. Além disso, a tônica geral do elenco é a do assumidamente caricato e a própria trama de mistério se resolve como uma espécie de punchline.
De fato, um filme de mistério que se levasse a sério demais não encontraria público hoje em dia, mas Johnson é perspicaz para perceber as mudanças nos ventos e, se quer continuar tocando o seu projeto de resgate da magia do filme de mistério, precisa saber se adaptar. Afinal, o desafio, que foi iniciado em Entre facas e segredos, continua: como despertar no espectador de hoje o fascínio pelo gênero de mistério? E, bem, se a última aventura de Benoit Blanc é alguma evidência da capacidade de Johnson em dar ao seu público o prazer e a diversão da trama de detetive, então, estarei feliz em voltar para o próximo espetáculo.
Nota do crítico:

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