Em um passeio pela masculinidade frágil de uma época de efervescências, Paul Thomas Anderson explora os efeitos da ficção se apossando da realidade.
Assim que terminei esse filme percebi que já assisti a grande maioria dos longas do Paul Thomas Anderson e, inesperadamente, Boogie Nights agiu como um revelador: em uma referência que eu acho bem pobre (mas simplesmente não consigo tirar da cabeça), assim como Scorsese, o diretor gosta de desvendar quais efeitos uma descoberta proporciona em uma mente virgem.
Sangue Negro faz isso com Daniel Day Lewis no o oeste petroleiro, O Mestre faz isso com Joaquin Phoenix na cientologia e até mesmo Embriagado de Amor explora como o Adam Sandler foi acertado pela paixão. Todavia, bem diferente do bom velhinho, ele não se prende à ganância e à religiosidade para explorar esse deslumbre humano (não que isso limite o Scorsese) e aborda uma realização interna muito mais bruta e selvagem quando não a objetifica.
Mais uma vez citando Sangue Negro, o filme não é só sobre enriquecimento, petróleo ou até mesmo superioridade e sim sobre um anseio interno por poder ser melhor, mais vil e unânime que o outro. Uma viagem pelo orgulho que sempre resvala no mesmo cidadão americano que almeja uma estrada florida sem olhar para seus espinhos.
Boogie Nights - Prazer Sem Limites toma o mesmo rumo como um grande retrato de uma época efervescente. Aqui Paul Thomas Anderson explora a virilidade do homem que, no seu aspecto mais primitivo, exala a dominância através do sexo e de todos seus derivativos em choque com a fluidez afetiva característica de um período de descoberta sexual.
A maneira como todas as personagens se emaranham em uma amálgama de laços e relações, em que casais são compartilhados, laços maternais transformados em libido e a própria ficção pornográfica transcende para seu subconsciente, deságua na falta de senso das mesmas sobre a posição que ocupam socialmente. A linha tênue que separa os dois mundos é rasgada e alguns não aguentam essa j unção, como Little Bill que, ao lidar com as insistentes traições da esposa, não incorporou sua verdade ficcional e sucumbiu ao confrontar o real.
Em contraponto, outros entram de cabeça naquele que se desenvolve como um terceiro mundo de fantasia. Tudo funciona em uma sequência final que mais parece um comercial de margarina, todos são felizes e o sexo ainda é voraz.
Nota do crítico:
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