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Crítica | Mergulho Noturno (2023)

Bryce McGuire mergulha seu interessantíssimo curta original em um terror genérico, feito essencialmente para agradar à indústria.



Uma característica que aprecio nas produções da indústria do terror é a notável criatividade ao apresentar histórias que, à primeira vista, podem parecer estranhas, como uma mão engessada demoníaca ou uma piscina assassina. Essas narrativas destacam-se pela “originalidade” e peculiaridade, elementos importantes para o gênero do horror. De certa maneira, tais projetos improváveis e incredíveis estabelecem uma conexão intrigante entre a tela e o espectador, proporcionando exercícios formais e linguísticos interessantes no âmbito cinematográfico. Mergulho Noturno destaca-se como uma adaptação do curta-metragem de mesmo nome, representando uma obra notavelmente autoral escrita e dirigida por Bryce McGuire, o mesmo cineasta por trás do curta de 2014.  A notável continuidade da ideia original, centrada em instigar o medo do espectador em relação à piscina, é evidente ao longo do longa-metragem. Ao revisitar sua própria criação, McGuire demonstra certa noção formal ao criar situações que provocam o espectador, especialmente ao filmar a piscina. Quando direciona a câmera para a água clorada, ele brinca com as possibilidades visuais, explorando ramificações na perspectiva por meio de ângulos diversos, enquadramentos e movimentações. Contudo, parece que todo o potencial de terror e as oportunidades formais se restringem ao pequeno espaço aquático. Quando o filme se aprofunda no drama dos personagens, em suas agonias, angústias e dores, há uma sensação de perda de vitalidade.


A experiência de Mergulho Noturno parece envolver o espectador em um jogo de conexão e desconexão, especialmente na primeira metade do filme. Enquanto a câmera focaliza a piscina, capturamos cada detalhe com atenção; no entanto, quando a câmera se volta para o exterior, a intensidade se dissipa. Este contraste cria uma dinâmica intrigante que, por vezes, deixa o espectador em um estado de incerteza. A questão é que quanto mais o filme caminha, mais distante ele fica do espectador. Há uma corrente de opinião que argumenta que o uso de Jumpscares por diretores é sinal de preguiça, mas é importante reconhecer que o Jumpscare é uma técnica e o que realmente importa é a maneira como o diretor a utiliza, considerando sua “relevância” na narrativa.  Nesse sentido, Mergulho Noturno se destaca como um excelente exemplo de como o Jumpscare é apenas uma técnica a ser aplicada. Em determinados momentos, a técnica é empregada de forma estabelecida, especialmente ao explorar o medo na piscina, onde o diretor consegue criar (em alguns momentos) uma atmosfera envolvente. Entretanto, ao empregar Jumpscares em outras situações, percebe-se que parte da intensidade e do impacto emocional anteriormente experimentados se perde. Os estímulos diretos, que estavam presentes em momentos pontuais, parecem perder força em outras circunstâncias. Isso sugere que a “eficácia” do Jumpscare está diretamente relacionada à sua aplicação. Portanto, a crítica à técnica não reside na sua natureza intrínseca, mas na sua utilização. 


Mergulho Noturno adentra em um território comum do terror contemporâneo ao explorar o teor psicológico de seus personagens. Muitos filmes do gênero têm abordado os traumas como ponto inicial do medo e do desconforto, transformando a possessão em um meio mais direto de provocar o temor, sendo o trauma o verdadeiro condutor desse horror. Essas obras frequentemente adotam uma abordagem mais psicológica, explorando as cicatrizes emocionais deixadas por experiências dolorosas. Utilizam técnicas narrativas não lineares para refletir a natureza fragmentada da memória traumática, incorporando flashbacks, delírios e pesadelos na construção da história. A incorporação de elementos simbólicos é comum, utilizando elementos sobrenaturais como metáforas para representar os traumas psicológicos. No entanto, assim como o jumpscare, tudo isso é meio e técnica, mas neste contexto, pouco funciona. O filme não consegue envolver o espectador em qualquer forma de emoção; tudo parece disperso, carente de estímulos ou de qualquer vínculo com o espectador. Dá a impressão de estar ali puramente para atender a uma exigência contratual, transformando aquele curta-metragem interessante em um longa de terror com o único propósito de arrecadar bilheteria. O desfecho é que Mergulho Noturno se revela apenas mais um exemplar genérico da indústria hollywoodiana de terror, incapaz de se destacar. No final das contas, Mergulho noturno é um filme sem vida, sem alma e desprovido de paixão pela sétima arte.



Filme assistido a convite da Universal Pictures

Mergulho Noturno chega aos cinemas brasileiros em 18 de Janeiro de 2024


 

Nota do crítico:


 

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