Sobre a arte de amar...
Uma das tarefas mais difíceis para um crítico talvez seja a que mais condiz com seu papel: mergulhar profundamente em seu coração, naquilo que mais ama (afinal, a crítica é, como já disse Jean Douchet, “a arte de amar”). Ou seja, para um crítico, escrever sobre seus filmes favoritos pode ser árduo. Digo da minha experiência: a sensação é de uma vulnerabilidade infantil diante da grandeza de uma obra que parece carregar o cinema em si, porque todo grande filme “é o cinema”, como diz o jargão. Vertigo é o cinema, Persona e Gritos e Sussurros são o cinema, Ran, Os Incompreendidos, Paixão dos Fortes, O Dinheiro e tantos infinitos outros são tudo o que o cinema é - e por isso continuamos assistindo a filmes, em busca de mais um que seja, novamente, o cinema, que está em constante renovação a cada obra prima que toca a sensibilidade de uma geração de críticos.
Mais recentemente, por exemplo, Retrato de Uma Jovem em Chamas e Era Uma Vez… Em Hollywood, ambos de 2019, alcançaram posições privilegiadas dentre o juízo de alguns de nós, marcando presença na lista de favoritos que elaboramos aqui na Cine-Stylo. Outros filmes que se estabeleceram no início dos anos 2000, como o amado Cidade dos Sonhos, também se fizeram presentes, enquanto as obras primas de sempre como Ladrões de Bicicleta mantém sua soberania inabalável. Dentre os textos de nossos redatores, temos desde críticas de um filme consagrado como Cidadão Kane até explorações sociológicas de obras fora do “cânone cinéfilo”, como Show de Truman. Vale ressaltar que nossa equipe não precisou escolher escrever sobre, necessariamente, algum filme que tenha marcado posição na lista final: sua escolha, como era o objetivo de todo esse especial, deveria vir do coração, de algum de seus filmes favoritos. Por isso, talvez seja até mais interessante e revelador do que a lista final conferir o ranking individual de cada um dos críticos.
O fato é que, independente da época e do lugar que os filmes analisados ocupam no panteão cinéfilo, cada crítico que participa deste especial precisou enfrentar e vencer esta tarefa tão complicada: racionalizar, de algum modo, a beleza de seus filmes favoritos para transpor sua experiência em palavras. Uma busca difícil e mesmo utópica. Mas todos nós tentamos e, como editor, posso dizer, com muito orgulho, que sucedemos - dentro do máximo possível - na tentativa de colocar nossos corações nas palavras que se seguem em cada texto de nosso singelo especial. Uma proveitosa leitura e bons filmes a todos!
Davi Pieri,
co-editor e crítico da Cine-Stylo
11 TEXTOS - 1 novo todos os dias
Todos os textos acompanham a lista de favoritos indivual do seu redator.
LISTA FINAL
Os favoritos dos redatores da Cine-Stylo
Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch
Vertigo (1958), de Alfred Hitchcock
Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut
Amor À Flor da Pele (2000), de Wong Kar-Wai
Amores Expressos (1994), de Wong Kar-Wai
Retrato de Uma Jovem em Chamas (2019), de Céline Sciamma
Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho
Fogo Contra Fogo (1995), de Michael Mann
Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica
Cidadão Kane (1941), de Orson Welles
Companheiros: Quase Uma História de Amor (1996), de Peter Chan
O Dinheiro (1983), de Robert Bresson
A Felicidade Não Se Compra (1946), de Frank Capra
A Vila (2004), de M. Night Shyamalan
Era Uma Vez Em...Hollywood (2019), de Quentin Tarantino
Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese
O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola
Um Tiro na Noite (1981), de Brian de Palma
Cabra Marcado Para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho
Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick
Para mais críticas, artigos, listas e outros conteúdos de cinema fique ligado na Cine-Stylo, a coluna de cinema da Singular.
Comments