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Foto do escritorAna Rita Meneses

A Crônica Francesa (2021)

Uma história na França, uma paixão pela arquitetura moderna e suas influências, suas cores e suas formas.



Atualmente, o cinema feito por Wes Anderson é um dos mais estilizados e com um 'traço' particular, uma verdadeira assinatura. Seu estilo, sua forma, seus cenários e direção de arte, são facilmente reconhecidos em uma olhada. Existem diretores metódicos, que precisam controlar tudo, de luz a impedir o inevitável, como os gênios Kubrick e Hitchcock. Não que Wes Anderson esteja no mesmo nível, mas há um apreço por esse cinema calculado, super comandado e extremamente simétrico.


Há quem compare a Jacques Tati, e eu concordo, especialmente em "A Crônica Francesa", uma história na França, uma paixão pela arquitetura moderna e suas influências, suas cores e suas formas.


Em "A Crônica Francesa", Wes Anderson traz a história e memória de uma revista, intitulada 'The French Dispatch' na cidade francesa fictícia Ennui-sur-Blasé. A revista e sua vida estão diretamente ligadas ao editor, Arthur Howitzer Jr, personagem de Bill Murray, um dos queridinhos de Wes.


Já no início do filme, somos informados da morte do editor e nos é apresentada a última edição da revista, que possui quatro artigos e o obituário de Artur, afinal, a morte do editor é a morte da revista.


Fazer cinema é a arte de contar histórias com imagens, e é exatamente o que Wes Anderson faz aqui. Por meio de seus personagens e sua narração, "A Crônica Francesa" conta histórias, mas que ganham um ar mágico nesse universo característico do diretor.



A narração é feita pelos autores dos artigos, onde não há diretamente a quebra da quarta parede, mas sim, a transformação do que seria essa obra escrita, a revista, para o audiovisual. Em "A Crônica Francesa", a estrutura dessa fictícia revista nesse fantabuloso mundo de Wes Anderson é o que nos guia como elemento estruturante.


Na primeira crônica, temos um passeio pela cidade com o jornalista Herbsaint Sazerac, personagem de Owen Wilson, que conta sobre a cidade, seus habitantes e história de forma apaixonada e encantada. Dentro dessa divisão de Wes Anderson, é o menor dos contos, e acaba deixando um 'gostinho de quero mais', ao instigar a imaginação do espectador sobre essa fictícia, desconhecida e pictórica cidade. Seria esse o artigo da revista que mais falaria de forma admiradora e direta do jornalismo e a função da revista.


Seguindo, no segundo artigo, a história é trazida por J. K. L. Berensen (Tilda Switon) no caderno de artes. Conhecemos o artista Moses Rosenthaler (Benicio del Toro), que produz sua arte na prisão, que tem como musa a carcereira Simone (Léa Seydoux). Entende-se claramente o encanto do diretor pela arte e uma necessidade de falar dela em seu filme, mesmo de modo despretensioso, essa explicação e concepção do que é arte sai um pouco errada, quase como uma desvalorização. O personagem de Adrien Brody, o negociador de arte Julien Cadazio, chega a proferir de forma irônica, é claro, que: todos os artistas vendem seus trabalhos; é o que o torna um artista; vender. É como se estivéssemos vendo uma justificação leiga para leigos sobre arte, quase como estereótipo da produção artística pós-moderna e sua comercialização. Junto a isso, tem-se o clichê do artista louco e torturado, nesse caso, regado a comédia típica de Wes Anderson.


Retornando ao jornalismo, no terceiro artigo, pertencente a Lucinda Krementz (Frances McDormand), é contado o caso de um jogo de xadrez e um conflito universitário, que sem desenvolvimento sobre, questiona de forma superficial e sucinta o 'jornalismo imparcial' (se é que ele existe). Acredito que é nesse momento que o cinema de Wes Anderson enquanto espetáculo alcança seu ápice, com uma misé en scene espetacular, reforçando o caráter metódico e bastante controlador do diretor.



Por último, encerrando o que seria esse 'corpo' da revista, tem-se a história mais intrigante, curiosa e melhor desenvolvida. Roebuck Wright (Jeffrey Wright) relata o sequestro do filho do comissário Ennui, que envolve também Nescaffier, uma figura icônica para a cidade. Aqui, os personagens excêntricos de Wes Anderson são trabalhados de modo a prender nossa atenção por esse caso singular e intrigante.


Um detalhe interessante em "A Crônica Francesa" é que ao mesmo tempo que há um personagem principal, o editor interpretado por Bill Murray, o seu protagonismo se faz presente pela ação e importância central da revista, uma vez que a trama se desenvolve nessa construção da última edição da 'The French Dispatch'.


O cinema de Wes Anderson é conhecido pelo uso das cores vibrantes. No longa, ele usa essas cores para enfatizar detalhes narrados na história. Tem-se assim, a mudança do 'preto e branco' para uma cena ou sequência colorida, bem saturada, como por exemplo, no destaque aos olhos azuis da atriz Saoirse Ronan no quarto conto.


As histórias trazidas por Wes Anderson não possuem juízo de valor ou lição, são apenas histórias 'curiosas' sendo contadas. O resultado é um conjunto de histórias interessantes, que por pouco não se tornam dispersas na narrativa.


Nota da crítica:




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